Parahyba Rio Celeste | por Gustavo Moura

“Nem a distança das mia,
nem a grandeza do mar;
me faz isquece um só dia
da minha terra natá!”
(Zé da Luz)

“Parahyba Rio Celeste” é um livre ensaio fotográfico sobre as águas do Parahyba, que vem sendo realizado há mais de trinta anos pelo fotógrafo paraibano Gustavo Moura, em fotografia analógica, preto e branco, 35mm, com foco na paisagem humana, geográfica e cultural dos municípios situados no curso do rio que dá nome ao estado da Paraíba.

O projeto “Parahyba, rio celeste” propõe (objetivo geral) (i) a publicação de um fotolivro sobre o universo ambiental e cultural do Rio Parahyba e dos municípios situados ao longo de seu curso, com fotografias de autoria de Gustavo Moura feitas nos últimos 30 (trinta) anos e textos de Bráulio Tavares, do editor Linaldo Guedes e do curador Paulo Rossi, junto (ii) à realização de uma exposição de artes visuais itinerante com o lançamento do fotolivro nos municípios paraibanos de Cajazeiras, Campina Grande e João Pessoa, finalizando em São Paulo/SP, na única galeria do Brasil dedicada à fotografia analógica, a Imágicas Galeria.

Além disso, o projeto prevê, enquanto contrapartidas sociais, (iii) a disponibilização do fotolivro em formato digital (ebook) na rede mundial de computadores, (iv) a oferta de visitas guiadas nas exposições e (v) de oficinas de formação (gratuitas) no município de João Pessoa/PB e, por fim, (vi) a destinação de 50% (cinquenta por cento) dos exemplares impressos do fotolivro para doação, divulgação, patrocinador(es) e venda com preço popular.

O rio Parahyba, artéria vital que batiza o estado onde vivemos, navega desde a Serra do Jabitacá em Monteiro e se arrasta a desenhar por entre as terras áridas e férteis do Cariri. Contemplando a bela e descuidada paisagem que serpenteia a nossa geografia agreste, onde são formados os açudes de Boqueirão e Acauã, fontes vitais de abastecimento hídrico e desenvolvimento socioeconômico dessas regiões. Segue seu curso alimentado por afluentes, passando pela capital, abraçado pelo rio Sanhauá, seguindo em busca das águas salgadas do litoral norte, entre os municípios de Santa Rita e Cabedelo. Parahyba é um rio que transcorre ao longo do seu percurso sempre dentro do estado que herdou seu nome, assim como a capital do estado, terceira cidade mais antiga do Brasil (fundada em 1585), que também teve os seus dias de Parahyba (1654-1930, período em que chamou-se Parahyba do Norte). Além de ser uma das principais bacias hidrográficas e de margear a malha ferroviária do estado em um trecho importante para o desenvolvimento da Paraíba e de ter em sua foz o importante Porto de Cabedelo ao lado da histórica Fortaleza de Santa Catarina, foi ao longo de sua extensão que ocorreram alguns dos principais ciclos econômicos da região, como o da cana-de-açúcar e da pecuária.

De acordo com o historiador Diego Gomes de Lucena, “O rio Parahyba proporciona em sua foz uma visão de grandeza e distanciamento. O encontro de suas águas com o Atlântico estabelece uma fronteira física que, por muito tempo, representou os limites entre dois povos indígenas. O vasto território Potiguara, por exemplo, tinha seu limite sul às margens do rio. Já os Tabajaras ocupavam uma área menos extensa, espremida entre os Caetés, atual Pernambuco, e o Parahyba. Essa rivalidade histórica entre Potiguaras e Tabajaras teve papel central na ocupação portuguesa da região que viria a se tornar a Província da Parahyba em meados de 1580. […] O rio incorpora múltiplos significados, podendo ser sinônimo de fartura para os Cariris, símbolo da interiorização lusitana para os sertões, fronteira e provento para Potiguaras e Tabajaras ou o espelho da escravidão e resistência para os adrodescentes.”.

Patrimônio natural do estado, o rio Parahyba tem fundamental importância no aspecto ambiental, histórico, hídrico, socioeconômico e cultural. Ao longo do seu curso, desenvolveram-se atividades bastante significativas como o ciclo da cana-de-açúcar e da pecuária, que demarcaram períodos de importante desenvolvimento econômico e cultural do estado. Nas feiras de Monteiro e Itabaiana circulavam grande parte da riqueza produzida na Paraíba, que muitas vezes escoava pelo porto de Cabedelo. Ainda dentro dessas feiras se apreciava os cantadores, sanfoneiros, violeiros e violeiras, a literatura de cordel e o rico artesanato produzido em couro, barro, madeira, fibras, rendas e bordados. Ao longo das cidades ribeirinha que margeiam o Parahyba encontramos ainda ícones da cultura e história paraibana, como Zabé da Loca, o poeta Zé da Luz, Sivuca, a atriz Zezita Matos, o cineasta Vladimir Carvalho, Totonho, o poeta e escritor Hildeberto Barbosa, Flávio José, Pinto de Monteiro, o ator Luiz Carlos Vasconcelos, Assis Chateaubriand, José Lins do Rêgo, entre várias outras referências fundamentais para a Paraíba.

Com base nessa compreensão quanto à relevância histórica, cultural e ambiental do Parahyba, durante a realização deste projeto já foram feitas sucessivas expedições a vários municípios existentes nos arredores do rio, com custos operacionais de compra dos filmes, revelação e digitalização das imagens editadas, realizados com recursos próprios sem nenhum patrocínio ou financiamento. Em cada lugar visitado contou-se com a contribuição de um(a) agente cultural local que, além de guia, também contribuía com informações a respeito da história do lugar.

Além de ser publicado por uma editora paraibana, a equipe de produção do fotolivro “Parahyba, rio celeste” conta em sua grande maioria com trabalhadoras(es) da cultura paraibanos(as) ou residentes no estado, atuantes no município de João Pessoa/PB e em especial no Centro Histórico da capital paraibana.

O fotolivro “Parahyba, rio celeste” traz para a superfície temas como a diversidade cultural e ambiental, sua riqueza natural e o vasto legado arquitetônico e artístico  da região, mas também a escassez hídrica e os tipos de trabalho vistos ao longo do rio, a poluição e o uso de suas águas, entre outras questões, gerando um registro de grande valor antropológico. Nesse sentido, este projeto tem como finalidade mais ampla o reconhecimento e valorização da diversidade cultural da região, a promoção do direito à memória, a universalização do acesso à arte e à cultura, o estímulo à sustentabilidade socioambiental e a valorização da cultura como vetor do desenvolvimento sustentável, em consonância com os princípios e objetivos da Lei Federal de Incentivo à Cultura (Lei nº 8.313/1991), do Plano Nacional de Cultura (Lei nº 12.343/2010), da Política Nacional Cultura Viva (Lei nº 13.018/2014) e do Sistema Nacional de Cultura (artigo 216-A, da Constituição Federal e Lei nº 14.835/2024).

Em um contexto global atual de ampla discussão sobre questões climáticas e culturais, como a importância dos saberes dos povos e comunidades tradicionais, de rios saudáveis e florestas em pé para o futuro da humanidade, o escritor e liderança indígena Ailton Krenak alerta: “Vamos escutar a voz dos rios, pois eles falam. Sejamos água, em matéria e espírito, em nossa movência e capacidade de mudar de rumo, ou estaremos perdidos”.

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PRONAC: 245042
https://versalic.cultura.gov.br/#/projetos/245042